Aumento do IPI para motocicletas afeta pequenas fábricas brasileiras e consumidor de baixa renda
Suzane Carvalho
A nova medida do governo, de aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI, sobre as motocicletas de baixa cilindrada foi um golpe duro na cabeça dos pequenos empresários e principalmente, do consumidor de baixa renda.
O governo anunciou ontem o aumento de 15 para 35% do IPI para motocicletas com motor até 50 cc e de 25 para 35% para as que têm motor até 250 cc, para importadores, montadores ou fabricantes que estão instalados fora da Zona Franca de Manaus.
Acontece que todos os outros impostos são calculados com base no IPI: PIS, CONFINS, ICMS, e por aí vai. Então o aumento real de uma motocicleta de 50 cc importada, montada ou produzida fora de Manaus, será maior do que a margem de lucro dos revendedores e concessionários.
Como as motocicletas até 99 cc não precisam ser emplacadas não entram nas estatísticas da FENABRAVE (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). E as fábricas e importadores pequenos também não fazem parte da ABRACICLO (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares). Ou seja, não estão nas estatísticas, mas estão pagando os impostos que o governo cobra.
A Shineray, por exemplo, do Grupo Total, começou a importar os produtos da fábrica chinesa em 2005, abrindo a primeira revenda em Pernambuco. Hoje tem 150 concessionárias e mais 450 pontos de venda. O grupo está investindo mais de R$ 100 milhões na construção de uma montadora em uma área de 200.000 m² próxima ao Porto de Suape, em Pernambuco, e a previsão é de que comecem a produzir no segundo semestre de 2013.
A Dayun é chinesa e chegou ao Brasil em 2006. As motocicletas vêm semi-montadas e são acabadas na montadora localizada em Vila Velha, no Espírito Santo. Antes vendiam somente as motocicletas da linha D’Itally. Os diretores da fábrica da China se reuniram com o governador do Espírito Santo e acertaram a construção de uma fábrica em uma área de 120.000 m² São Matheus. São 45 concessionárias, sendo 10 próprias e o volume de vendas em 2011 foi de aproximadamente 15.000 unidades.
A Sazaki Motors do Brasil é uma empresa de montagem de motocicletas e veículos automotores, importadora e distribuidora desses produtos em parceria com a Sukida. A Sazaki escolheu a cidade de Cajazeiras, no semi-árido nordestino para sua linha de montagem, mas seu escritório está na cidade de São Paulo.
A Jonny surgiu em 2006, em São Paulo e começaram vendendo nas grandes lojas e magazines. A primeira loja própria foi aberta em João Pessoa e hoje conta com 60 concessionárias. Em seu portfolio tem um Scooter de 50 cc que custa apenas R$ 3.390,00. E ainda vem com partida elétrica e freio a disco com ABS. O grupo vendeu próximo de 30.000 unidades em 2011, e objetiva estar, em pouco tempo, entre as 5 maiores em volume de vendas, no Brasil. Para isso, está construindo fábrica em Camaçari, na Bahia.
Alan Motors empresa genuinamente carioca, está há 12 anos no mercado e emprega 30 funcionários diretos e outros 200 indiretos. É importador de modelos de 50cc e acaba de fechar a importação de um modelo de 250 cc da Tailândia. Alan Omar, seu proprietário, disse que essa medida é uma forma covarde que está atingindo somente os pequenos empresários, e que somente as empresas que estão baseadas em Manaus é que lucram com isso. “Nós pagamos os mais altos impostos, e o governo ganha muito conosco. Alguns aventureiros simplesmente vão para a China ou Coréia, compram dois containers de bicicletas ou motos, chegam aqui e revendem sem se importar com o produto nem com o consumidor. É contra esses que o governo deveria agir.”
A Auguri entrou no mercado em 2008 e seus produtos são de origem chinesa. Tem 12 concessionárias nas cidades do Rio de Janeiro, Cabo Frio, Macaé, Niterói e Três Rios e vende uma média de 200 unidades por mês. Seu diretor, Marcello Azevedo, disse que estavam em negociação para montar uma fábrica em Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro, mas ontem mesmo já desistiram do projeto, pois não dá para trabalhar com 20% a mais em cima de todos os outros impostos.
No último Salão Duas Rodas realizado eu outubro do ano passado, vimos diversos fabricantes chineses e coreanos expondo seus produtos em busca de representantes, que pelo visto, não encontrarão
Para não errar, como fez com os importadores de carro, desta vez o governo anunciou a medida três meses antes de sua entrada em vigor.
Mas em vez de dar apoio para que a população de baixo poder aquisitivo conquiste a liberdade de movimento e deixe de depender do transporte público caótico e que não cobre todo o território nacional, o governo faz com que seja cada vez mais proibitivo o transporte opcional e mais barato de duas rodas.
Em vez de traçar estratégias para o desafogamento do tráfego pesado com incentivos a esse tipo de veículo, sua aquisição torna-se mais difícil.
Com essa instabilidade de Leis e impostos, que mudam sem previsão nem informação, não é à toa que empresas como a Jaguar-Land Rover, que pretendia montar fábrica no Brasil, desistiram do investimento.