A motocicleta está cada vez mais feminina
Suzane Carvalho
Que as linhas e curvas de uma mulher e de uma motocicleta se completam ninguém nunca duvidou. Mas se antes essa ligação era apenas estética, tornou-se vital. Tanto para as proprietárias dos veículos de duas rodas quanto para a indústria.
A agilidade e concorrência de nossos dias não permite que uma pessoa produtiva perca diversas horas por dia presa no tráfego. Logo, a saída encontrada por muitas mulheres está no veículo de duas rodas. Não apenas para ir à academia ou ao mercado, mas para pular de um trabalho ao outro a tempo de cumprir todas as tarefas diárias.
No mercado de trabalho ou no esporte, as mulheres se mostram cada vez mais competitivas. Mas mais do que uma maneira de se impor ou de lazer, a motocicleta muitas vezes é o próprio trabalho. Kelly Cris, 32, anda de moto desde os 13. Tem uma empresa de serviços de motofrete com outros dois motociclistas.
Há seis anos nas ruas como motogirl, trabalha das 08 às 18 horas e nunca sofreu um acidente. Tem uma moto para o trabalho e outra para o lazer. ''Passo o final de semana lavando moto, montando moto, minha vida é isso!''
Só que mesmo sujas de lama, com os cabelos ao vento, com o macacão suado e de botas, elas não deixam de ser femininas. Beleza, cor, alegria, determinação, personalidade, liberdade estão estampadas em suas motos e vestimentas. Sim, além de a mulher ser mais criativa que um homem, ela não tem vergonha de mostrar seu gosto, e o equipamento utilizado, geralmente é customizado.
As fábricas, por sua vez, já descobriram este nicho. E junto com a moto, uma vasta linha de acessórios é fabricada e vendida exclusivamente para elas.
Pensando nesse público feminino, a Honda lançou um tom de rosa para sua linha de motonetas Biz 125 e Biz 100. Afinal, 60% dos compradores desse modelo são mulheres. Em números, isso significa que, em 2012, pelo menos 133.534 mulheres compraram uma Biz!
Também experta, a Dafra lançou uma versão dedicada do seu scooter com motor 125 cc, o Smart, que chamou de Joy . Ele vem com um tom de ''azul feminino'' escolhido pelas próprias clientes, e diversos adesivos para customização.
A Harley-Davidson já organizou passeios exclusivos para sua clientela feminina. O ''Ladies of Harley'' é a porção feminina dos Harley Owners Groups ou, H.O.G®, e organiza eventos exclusivos. Na mesma linha, a BMW já promoveu o ''Girls Day Out'', um passeio com direito a massagem e salão de beleza durante a parada.
A Honda dedica ainda turmas exclusivas de seus cursos de aperfeiçoamento de pilotagem, e em seu quadro de instrutores, Jaqueline Poltronieri, que também foi piloto de Motocross, se destaca.
Da mesma forma, o investimento no esporte também está aumentando. Nas pistas, elas chamam atenção. Mas não apenas pelo macacão, obrigatoriamente justo, pois estão se impondo e ganhando corridas e campeonatos. Na terra, já são diversos os títulos conquistados nas categorias de base.
Em 2005, Ana Lima, então com 25 anos, foi a primeira brasileira a conquistar um Campeonato no asfalto, ganhando o Brasileiro de Motovelocidade na categoria 125 cc. Ano passado foi a vez de Sabrina Paiuta, 17, ganhar na Ninja 250 Light. Sabrina já acumula outros títulos de campeã no Motocross e na SuperMoto.
Mas a participação das mulheres com motos de grande cilindrada é cada vez maior. Mesmo sem nunca ter competido, algumas começam a correr diretamente nas principais categorias. Babi Paz, por exemplo, aos 26 anos começou a correr direto com uma 1.000 cc. Outras correm em campeonatos exclusivos para mulheres, que servem de porta de entrada para ganharem mais confiança. Mas sempre com motos acima de 600 cc. Com isso, já se tornaram, literalmente, um show à parte, que é o caso do Racing Girls Show, uma equipe feminina que faz shows em pistas de corridas.
Uma quantidade imensa de moto clubes femininos está se alastrando pelo país. Como não poderia deixar de ser, os nomes são bastante criativos: ''Felinas do Asfalto'', ''Damas Aladas'', ''Devassas Motoclube'', ''Damas de Aço'', ''Medusas'', ''Divas Insanas'', ''As Revoltadas'', e por aí vai… Os encontros muitas vezes têm motivos sociais. É o caso do MAV – Moto Ação Voluntária, uma associação que tem como finalidade, unir o entretenimento e a ação social dentro do meio motociclístico.
Já eu, sempre fui fascinada pelo mundo das duas rodas. Apostava corridas de bicicletas com os meninos nas ruas, mas só pude ter minha primeira bicicleta por volta dos 15 anos e passei a usá-la como meio de transporte para todas as atividades, inclusive colégio. Minha mãe não me deixava comprar uma moto, por isso comprei a primeira somente aos 22 anos e nunca mais deixei de ter. Seja para driblar o trânsito durante a semana, para passear final de semana, para viajar ou colocar adrenalina para fora em pistas, eu não me entendo sem uma motocicleta e tenho mais de 1 milhão e meio de quilômetros rodados sobre elas. E o melhor: minha vasta experiência em pistas de corridas e em estradas, aliada à sensibilidade, ao gosto pela mecânica e pela velocidade, fizeram com que a motocicleta tivesse ainda mais uma função em minha vida, e fiz da arte de testar motos, uma profissão.
Aprecie as fotos abaixo. Para ampliar, basta clicar sobre elas.