Blog da Suzane Carvalho

Luto na Motovelocidade Brasileira – Joãozinho Sobreira Treze

Suzane Carvalho

Fotos: Suzane Carvalho e Luciano Sampafotos

foto: Suzane Carvalho

João Sobreira, Joãozinho Treze, na 1ª etapa deste ano, também em Goiânia

Nunca imaginei que eu fosse dar uma notícia dessas. Não desse jeito.  E de um piloto próximo.
Apesar de sabermos que acontece, jamais acreditamos que irá acontecer conosco ou com alguém de nosso convívio.
Joãozinho Sobreira ''Treze'', 32, era intenso e presente na vida de todos a sua volta.  O conheci em 2011, no Rio de Janeiro.

Era relativamente novo no motociclismo.  Mas não inexperiente. Começou a participar de track-days e em pouco tempo passou a fazer cursos de pilotagem. Em pouco tempo já participava de corridas de alunos e em pouco tempo estreou como piloto novato. Em pouco tempo ganhou corrida, passou para a categoria “Pro”(profissional), passou a ser instrutor da Moto School e a trabalhar na organização do campeonato em que corria, o SuperBike Series Brasil. No campeonato, estava na 6ª colocação, atrás apenas de pilotos oficiais das fábricas, muito experientes. E em pouco tempo, nos deixou.

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João Sobreira e Bruno Corano corriam e trabalhavam juntos

Sim, juntamente com Bruno Corano, presidente da Superbike Series Brasil e piloto da moto de n° 34 da equipe Mobil Monster Energy Kawasaki SBK Team e José Luiz “Cachorrão” piloto da moto de n° 51 da equipe Honda Mobil, “Joãozinho” fazia parte do comitê de segurança que, na reunião de 5ª feira, dia 15, antes do primeiro treino oficial da etapa de Goiánia, onde aconteceria seu acidente fatal, decidiu por colocar a barreira de proteção “airfence” na freada que antecede o “S” de baixa, já que a área de escape ali é bem menor: 90 metros contra 350 metros no final da reta.

Como muitos questionaram porque não havia uma barreira protetora do tipo Airfence, no guard-rail, Bruno Corano explicou:
''Discutimos onde colocaríamos a barreira de airfence e decidimos colocá-lo na freada que antecede o “S” de baixa velocidade porque ali chegamos a 245 km/h e quase não há área de escape. Se colocássemos no final da reta, onde chegamos a 280 km, não saberíamos onde colocar, já que um piloto, de qualquer categoria, pode sair em qualquer ponto daquela curva. E ali tem bastante área de escape.  E mesmo se tivéssemos colocado no ponto em que ele bateu, acredito que não mudaria o destino, pois o choque do João foi a uns 250 km/h e de frente”, disse Bruno Corano.

O airfence é uma proteção de ar, como um colchão, e chegou no Brasil há aproximadamente dois anos. No ano passado a organização do Superbike Brasil alugava a barreira de proteção tanto para as corridas quanto para os dias de treino e track day da Moto School. Mas devido ao alto custo do aluguel, a categoria resolveu investir na compra de seu próprio equipamento, e estreou 10 módulos com 8 metros cada, por 2 metros de altura, na etapa de Interlagos, que antecedeu a do final de semana passado. E já foi útil, já que protegeu um piloto da Copa Ninja, na curva do Café.  Outras 30 barreiras com a mesma medida já estão em processo de importação.

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Joãozinho se concentrando antes da classificação de sábado

Em relação a não ter paralisado a corrida, o experiente Diretor de Provas da SBK Brasil, Marcus Oliveira, o “Tucano”, que já trabalhou em sete edições do Mundial de Moto GP, disse que se orientou pela informação dada pelo médico que atendeu Joãozinho. “As três ambulâncias ficam no centro da pista, embaixo da torre, e uma ambulância entrou logo que o pelotão acabou de passar. Se eu desse bandeira vermelha naquele momento, teria que esperar o pelotão passar do mesmo jeito. Perguntei por rádio sobre o estado do piloto e o médico falou que estavam removendo-o e levando para o hospital. Perguntei novamente e ele repetiu o mesmo. Tecnicamente, não havia porque paralisar a prova se o piloto acidentado foi logo retirado e não havia nenhuma obstrução na pista.”

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Quando estamos na pista é preciso ser 100% confiante . Nós, pilotos, sabemos do risco que corremos. Porém, muitas vezes somos displicentes porque acreditamos que nada de errado irá acontecer. Se não fosse assim, não correríamos. Por estar atrasada, algumas vezes já entrei na pista sem checar a pressão dos parafusos dos freios e rodas.

Sim, mortes como esta são previstas e podem ser evitadas.  O que aconteceu, ainda não sabemos. Marcelo Skaf, que disputava a 6ª posição da corrida com Joãozinho, disse que ele já havia passado do ponto, na volta anterior.  Seu mecânico disse que ele havia se queixado do calor.

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Joãozinho com Ricardo Fox

Ricardo Fox, piloto e Diretor da escola de pilotagem Motor & Cia, era amigo de João e também estava na corrida, no pelotão que vinha logo atrás. “Na hora só vi um poeirão e não sabia quem era nem o que havia acontecido. Depois, analisando os vídeos quadro a quadro, deu para perceber que o João entrou rápido demais na curva, sem frear, e quando ele tentou usar o freio traseiro, a traseira escorregou.”

Joãozinho era um cara alegre, sorridente, amigo de todos. Perdemos todos todos: família, amigos e amantes do esporte motor.

É preciso sim chegar à conclusão do que realmente aconteceu para que se evite outros acidentes como esse.  Mas acusar tudo e todos não é o caminho.
Acho que pode ter sido problema mecânico, pois ele já estava dentro da curva. Se perdeu freio e tentou fazer a curva de qualquer jeito ou se o acelerador prendeu, só uma perícia detalhada poderia dizer. Mas isso é praticamente impossível. Já perdi freio em final de reta e também já tive o cabo de acelerador preso em final de reta. Mas foi em Kart e na Fórmula 3. E mesmo tendo reações rápidas, tive acidentes graves.
No caso do acelerador preso, no F3, foi possível ter alguma reação. No Kart não. No caso da perda de freio, impossível fazer algo, nos dois. Nas vezes em que aconteceu comigo, de F3, a perícia não pode constatar nada, já que o carro ficou destruído. O mesmo quando tive suspensão quebrada tanto no Indy Lights quanto em um carro de Turismo.  E a moto é ainda mais rápida.  É praticamente impossível conseguir fazer algo antes que se chegue ao guard-rail e também constatar com certeza a causa do acidente.

Este é o sexto ano do campeonato SuperBike Series Brasil, e infelizmente, aconteceu o primeiro acidente fatal.

Joãozinho foi enterrado hoje às 16 horas no Cemitério do Ipês, em Itapecerica da Serra, SP.

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Pilotos e equipes fizeram, ainda na pista uma homenagem emocionante a Joãozinho, que foi divulgada no canal do Superbike Brasil. Veja abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=HGd_LROnoV4

Aqui, um vídeo do acidente, gravado da arquibancada por um espectador e divulgado pela
No vídeo é possível ver que ele entrou na curva mais rápido que os pilotos que passaram na sua  frente.
https://www.youtube.com/watch?v=Ie4PlAyHL48